09/11/2015 - 21h40m
Como interpretar a inédita correção do Globo na 1ª página?
Por Paulo Nogueira,
Divulgação
Por Paulo Nogueira,
Um mês depois de entrar com fanfarra no Globo, Lauro Jardim levou a maior bofetada de sua carreira neste domingo.
Com atraso, é verdade.
Numa
inédita correção de primeira página, como se fosse um jornal
escandinavo, o Globo desmentiu que Lulinha foi citado na delação
premiada de Fernando Baiano.
Foi a primeira nota de Lauro no Globo, e ele avisou que ela ia provocar estrondo.
Provocou,
mas não exatamente da maneira que ele imaginava. No curto espaço em que a
informação sobreviveu, o colunista do Globo Jorge Bastos Moreno, um
jornalista de bom coração que crê nos bons propósitos das empresas de
mÃdia, saudou a estreia de Lauro como "triunfal".
Talvez agora Moreno pudesse voltar ao assunto.
� uma errata histórica sob vários aspectos, não apenas para a reputação de Lauro.
Demonstra o acerto de Lula ao decidir, subitamente, processar jornalistas que publicam barbaridades sem prova contra ele.
Provavelmente
o Globo quis dar uma advertência a Lauro, e aos demais jornalistas:
prestem mais atenção ou vão terminar na primeira página, sob
esculhambação.
Mas é também provável que os Marinhos tenham reagido à intensa reação de Lula na Justiça.
O episódio joga luzes também na ida de Lauro Jardim para o Globo.
O Globo, como todas as empresas, tem demitido levas de jornalistas, sob a pressão do avanço da mÃdia digital.
Por que contratar Lauro neste momento?
Há sempre a
hipótese do antigo complexo de inferioridade da Globo em relação Ã
Abril, mas não parece uma explicação forte o suficiente.
Existe
também uma coisa prática: Lauro tem boas fontes no Ibope, e em seus
últimos tempo na Veja vinha dando, com frequência, as estrepitosas
quedas de audiência da Globo em tudo, das novelas ao Jornal Nacional.
Ã? uma
tradição da Globo comprar gente que a exponha. Paulo Francis foi um caso
clássico. Contratado ele, cessaram suas crÃticas ferozes a Roberto
Marinho, as quais começaram no Pasquim e se transferiram para a Folha
depois.
Lauro, no
seu novo endereço, parou de falar no Ibope da Globo, naturalmente. Suas
fontes no Ibope não devem ter ficado exatamente felizes.
E fez o
básico, no universo jornalÃstico destes dias: pôs foco em Lula. Nada
agrada mais aos donos das corporações jornalÃsticas que ataques a Lula.
Na Veja, os donos não se importam sequer em saber se as denúncias são verdadeiras.
Mas o Globo ainda não chegou a este estágio de antijornalismo, pelo que se viu na inédita correção de primeira página.
O gesto do Globo pode antecipar também o direito de resposta, aprovado pelo Senado e na dependência de aprovação de Dilma.
Toda sociedade avançada, no mundo, tem vigorosos sistemas de resposta para erros da mÃdia.
A imprensa não está acima da sociedade, por mais que no Brasil ela se comporte como se estivesse.
Os cidadãos têm que estar protegidos de abusos. E não estão.
A proteção â??
o direito de resposta é um dos pilares dela, mas não o único â?? tem
efeitos positivos até para jornais e revistas. Força-os a ser melhores,
mais responsáveis, mais cuidadosos na hora de fazer uma denúncia.
Em pequena escala, é o que certamente acontecerá com Lauro Jardim no Globo depois da correção na primeira página.
Ele vai ser mais cuidadoso daqui por diante, mesmo quando se tratar de ataques à vÃtima prioritária da mÃdia, Lula
Fonte e texto: Diário do Centro do Mundo
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notÃcias e análises Diário do Centro do Mundo.