Tribuna do Interior

Tocantins, Quinta-feira, 28 de março de 2024.
06/10/2021 - 15h44m

Eleitores prometem acerto de contas nas urnas com deputados portuenses, indica pesquisa

Por Goianyr Barbosa 
Arquivo o Jornal

Nasci, cresci, "tô velho" e sempre ouvindo um provérbio dos antigos: "O povo brinca, mas com o povo não se brinca". Portanto, se mergulharmos no mar revolto da história de Porto Nacional, e descermos um pouco mais pelas correntezas bravias aportando-nos em Porto Imperial, Porto Real, descobriremos um povo de formação diferenciada, resiliente, e que soube resistir quando os seus direitos estavam sob ameaças de governantes tiranos. Naquele período, de acordo com registros, povos indígenas, ribeirinhos, extrativistas, caboclos, pescadores, entre outros, reagiram e combateram as mais variadas formas de opressão e domínio nas terras que ficaram conhecidas como o berço intelectual do Norte goiano. Pois bem, retornando na embarcação do tempo, o desembarque agora ocorre anos 50, século passado, período, aliás, de grande eferverscência social e política na progressista Porto. Ali o eminente juiz de Direito Feliciano Braga, na trincheira lado a lado com o povo nortense, inspirado nas lutas separatistas de Trajano Coelho e Lysias Rodrigues, por pouco não consegue libertar o Norte do Sul de Goiás.

A seguir, a embarcação segue velejando por quase quatro décadas para chegar ao ano de 1988, data na qual o candidato ao governo, Siqueira Campos promete, em Porto, se eleito, fazer da cidade a capital dos tocantinenses. Aclamado nas urnas, Siqueira muda de ideia e leva a capital para Miracema. Com isso, o portuense jamais perdoou a ingratidão de Siqueira, não sendo poucas, por exemplo, as derrotas infligidas a candidatos a prefeitos apoiados pelo velho Sica. A propósito, Siqueira na eleição de 2004, desejava fazer Vicentinho retornar à prefeitura. Nesse sentido, foi buscar um vice do grande MDB portuense, o ex-prefeito Jurimar Macedo, político de grande conceito. Sem combinar com o povo, o casamento político arranjado pelo governador Siqueira afogou nas urnas, e o resultado foi desastroso para o candidato do Palácio Araguaia. Por fim, ainda bem fresca na memória de muitos, a vitória de Joaquim Maia sobre o então prefeito Otoniel, na eleição de 2016, revela que o portuense sabe contrariar a lógica estabelecida. Bem recente, na última eleição, o povo decide eleger Ronivon Santiago, derrotando duplamente o então prefeito Joaquim Maia e o ex-prefeito Otoniel Andrade. Traduzindo, um povo que sabe renovar.

Deputados na mira do Tribunal das Urnas

O Ipepe foi a Porto no último dia 25 medir o grau de satisfação da população com os seus representantes no parlamento estadual. O levantamento ouviu 300 eleitores por segmentos de sexo, idade e escolaridade. O estudo buscou saber dos entrevistados se eles estão satisfeitos com os deputados estaduais que os representam. Pelos dados, 70,63% afirmaram estar insatisfeitos, ou seja, bem distante de representar os seus interesses no Legislativo estadual. Porém, 17,46% disseram estar satisfeitos, ao passo que 10,71% não se manifestaram. Na clivagem por idade, os que mais reprovam os parlamentares estão incluso das faixas de 25 a 35 anos e de 36 a 59 anos, cuja média de reprovação é de 78%. No quesito escolaridade, os que possuem o ensino médio e superior são onde se concentram a maior taxa de reprovação, isto é, 79% na média. Todavia, os sem escolaridades a reprovação é baixa, na casa de 27,27%.

No próximo questionamento, foi apresentado ao eleitor uma lista com os nomes de parlamentares que representam o município de Porto Nacional, com a seguinte indagação: "Em quem destes nomes você votaria para deputado estadual, caso a eleição fosse hoje?" Segundo o Ipepe, os dois primeiros colocados na pesquisa não são deputados, embora venham se manifestando a entrar no jogo. Na terceira colocação, surge o nome do deputado Júnior Geo, oposição sistemática ao governo Carlesse. Por outro lado, a grande surpresa da pesquisa é o aparecimento do empresário Arlindo da Rebram, do MDB, o qual pela margem de erro da pesquisa, de três pontos para mais ou para menos, encontra-se empatado tecnicamente com o segundo e terceiro colocados. O percentual de indecisos e dos que não sabem em quem votar é de 7,54%, além de 12,7% que declaram não votar em nenhum e 10,32% que prometem anular o voto. E mais, Arlindo deixa para trás, mesmo dentro da margem de erro, dois parlamentares já com mandatos. O Ipepe salienta que deixou de divulgar o resultado de um questionamento sobre quem é o parlamentar de Porto que o entrevistado mais reprova, atendendo pedido do contratante da pesquisa.

Nem a ponte ressuscita Carlesse

A questão mais emblemática para um governante, surge quando é reprovado justamente no local onde realiza a maior obra de seu governo. A ponte sobre o Rio Tocantins, em Porto, embora esteja ainda cercada de mistérios, posto que não foi apresentado documentos comprobatórios de que a mesma esteja colocando em risco a vida dos que transitam por ela, não deixa, por isso, de ser uma obra de vulto. Desta forma, na avaliação nua e crua dos portuenses, 51% reprovam diretamente a forma de Carlesse governar, enquanto 41% dão sinal verde de aprovação à sua gestão e 8% não souberam avaliar. Ante ao exposto, conclui-se que o portuense vai seguir novamente o seu curso histórico de julgar os seus homens públicos pelos seus feitos bons e ruins. Pelas observações, não vai ser fácil para os que estão no barco governista, uma vez que muitos lares ainda estão enlutados, muitos lenços ensopados de lágrimas, muitas cruzes fincadas nos cemitérios da cidade, por conta do descaso com a vida humana, resultado do abandono da saúde pública, tão amplamente divulgado em vídeos e áudios durante a fase mais aguda da pandemia. Por isso, a ira do povo está em chamas, pronta para cair na cabeça dos omissos e negligentes, que se dizem representantes do povo.

*Goianyr Barbosa é jornalista e consultor político.

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