Tribuna do Interior

Tocantins, Sexta-feira, 26 de abril de 2024.
17/10/2015 - 17h44m

Jogos Mundiais Indígenas enfrentam boicote em protesto contra governo

BBC BRASIL/Mariana Schreiber Em Brasília 
Divulgação
Com polêmica e protesto, Jogos Indígenas começam na próxima semana em Palmas (TO) Arco e flecha é uma modalidade dos jogos dos povos indígenas
Com polêmica e protesto, Jogos Indígenas começam na próxima semana em Palmas (TO) Arco e flecha é uma modalidade dos jogos dos povos indígenas

No embalo da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o Brasil sediará outro evento esportivo internacional: os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, que começam na próxima semana em Palmas, no Tocantins, com participação de cerca de 5.000 competidores do Brasil e de outros 22 países.

Assim como as outras duas competições, os jogos indígenas também estão cercados por polêmicas - enquanto são festejados por alguns povos, sofrem boicote de outros.

Duas etnias do Tocantins que haviam sido convidadas para o evento, os Krahô e os Apinajé, decidiram não participar e divulgaram notas com críticas ao governo e ao Congresso Nacional.

Os Guarani-Kaiowá estão divididos: haverá uma delegação da etnia, mas algumas lideranças também criticaram o evento em uma carta.

Em entrevistas à BBC Brasil, Antônio Apinajé e Renato Krahô disseram que "esse não é o momento de festejar", já que povos indígenas vêm enfrentando "um momento difícil", com a demora na demarcação de terras, conflitos violentos com fazendeiros e invasões de territórios já homologados por madeireiros e garimpeiros.

Eles reclamam ainda do sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai) e acusam o governo de usar os Jogos para desviar o foco desses problemas.

"Os povos indígenas estão vivendo alguns problemas graves. O volume de dinheiro que está sendo gasto [com os Jogos] podia estar sendo investido em saúde, na demarcação de terras, no monitoramento [dos territórios demarcados], pois tem muita terra sendo invadida. Aí o governo inventa um evento desse, usando a imagem dos índios para dizer que está tudo bem", critica Apinajé.

Para ele, os Jogos não trarão benefícios para os povos indígenas e são "um circo para turista ver". Krahô reclama que os povos do Tocantins não teriam sido convidados para participar da organização do evento e diz que o objetivo principal é movimentar a economia de Palmas.

"Quem vai sair ganhando com os Jogos é a cidade de Palmas, os restaurantes, hotelaria, e nós indígenas, que somos os protagonistas, vamos lá e depois voltamos do mesmo jeito que fomos", diz.

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