Todos os "novos" políticos de Amastha por Cleber Toledo - Tribuna do Interior

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Tocantins, quarta-feira, 24 de abril de 2024.
20/09/2017 - 08h08m

Todos os "novos" políticos de Amastha por Cleber Toledo

Cleber Toledo 
Divulgação
Prefeito Carlos Amastha durante congresso do PSB; na mesa, os ex-deputados Eduardo Gomes e Nilmar Ruiz
A carta do ex-governador Siqueira Campos (sem partido) ao prefeito de Palmas, Carlos Amastha, e aos convencionais do PSB foi o conhecido "tapa com luva de pelica". As alfinetadas, em grande parte, não estavam expressas, mas, principalmente, nas entrelinhas. A questão é que se há alguma "nova política" em algum grupo, sua primeira manifestação dever ser o respeito. Nada mais ultrapassado, prática antiga e de viés autoritário do que xingar adversários e tratá-los com desprezo. Se algum grupo tenta convencer a sociedade de que representa a decantada "nova" política, deve fazê-lo com o ingrediente indispensável da educação e do tratamento humanitário. Sem essas condições básicas, todo o discurso da suposta "nova" política cai por terra.

Olhando para as fotos do Congresso Estadual do PSB de domingo, 17, é possível imaginar como seria a cara da "nova" política de um possível governo Amastha. � claro que se trata de mera ilação, sem qualquer vínculo com a realidade. Outra consideração importante para essa elucubração é que o grupo de Amastha considera todos os políticos presentes no congresso dignos representantes do "novo". Assim, com esses dois pressupostos, vamos traçar quem seriam os principais nomes do PSB no comando do Estado, na Assembleia e no Congresso, a partir de 2019.

Um candidato a presidente da AL, representando esta "nova" política, seria o atual secretário de Governo de Palmas, Júnior Coimbra (PSB). � experiente, afinal já presidiu o Poder Legislativo estadual no governo Marcelo Miranda (PMDB), de quem também foi líder na Casa. Coimbra iniciou sua vida política no PMDB. Foi prefeito no interior, vereador na Capital e deputado estadual. Da escola peemedebista, transitou pelo siqueirismo. Depois desligou-se do ex-governador Siqueira Campos para acompanhar Marcelo no rompimento da União do Tocantins. Por fim, chegou à Câmara Federal, onde se tornou fiel seguidor do hoje deputado cassado e devidamente engaiolado em Curitiba, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Outro deputado estadual da "nova" política seria o atual secretário de Desenvolvimento Urbano, Ricardo Ayres, que começou sua vida pública como líder estudantil. Aliou-se ao então prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos, ainda nos anos 1990. Depois rompeu com ele e se tornou braço forte do governo Marcelo Miranda, do qual foi secretário estadual da Juventude. Ficou como suplente de deputado estadual em 2010, e, para ter uma chance na AL, compôs novamente com Eduardo Siqueira Campos no último governo Siqueira Campos. Ricardo chegou, enfim, à AL em 2015 como titular. Voltou a integrar o grupo do governador Marcelo Miranda, com quem rompeu recentemente para se aliar à "nova" política de Amastha.

Outro possível deputado estadual â?? repetindo: mera especulação â?? seria José Geraldo (PTB), também siqueirista. Atualmente ele é secretário do Desenvolvimento Social da "nova" política de Palmas. Após o governo Siqueira Campos, de quem foi base, chegou a assumir a superintendência da Agricultura do Tocantins, indicado pela então ministra Kátia Abreu. Deixou o cargo pouco depois e também passou a integrar a "nova" política de Amastha.

Nas fotos do congresso do PSB aparece outra figura importante, que tem perfil para chegar à AL, a ex-vereadora Warner Pires (PSD). Ela e o marido, o ex-vice-governador Raimundo Boi, por décadas simbolizaram o siqueirismo de tão identificados que eram com o ex-governador.

Dois ex-petistas poderiam compor a AL no governo Amastha: o suplente de deputado Alan Barbiero (PSB), que já assumiu secretarias na atual gestão da Capital, e o secretário municipal de Educação, Danilo Melo. Em 2006, Barbiero chegou a anunciar que estava se licenciando da reitoria da UFT para ficar à disposição do PT e ser um possível candidato a vice-governador de Marcelo Miranda. Por fim, descobriu-se que não existia licença para reitor, mas só renúncia, e ele preferiu não arriscar. Depois foi secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do último governo Siqueira Campos e disputou vaga para a AL em 2014 no grupo do ex-governador Sandoval Cardoso (SD).

Danilo Melo foi secretário de Educação de Palmas em toda a gestão do ex-prefeito Raul Filho, na época pelo PT. Depois, convidado por Eduardo, assumiu a mesma pasta no último governo Siqueira. Chegou a se desfiliar do PT quando o partido deixou de apoiar a gestão e exigiu que seus membros entregassem os cargos. Danilo também foi candidato a deputado estadual pelo grupo de Sandoval Cardoso.

Para deputado federal, a "nova" política poderia ter como representante o ex-prefeito de Axixá Auri-Wulange Ribeiro Jorge (PSB). Ele teve uma passagem pelo PSD, não gostou do que viu e deixou a legenda para se aliar ao governo Siqueira Campos. Auri se tornou braço direito de Eduardo no Bico do Papagaio, a quem apoiou para deputado estadual em 2014. Hoje é o principal representante da "nova" política de Amastha no extremo norte do Estado.

Pelas fotos vi o ex-deputado federal Antônio Jorge (PTB), também siqueirista empedernido. Muito experiente, ele também poderia ser um dos representantes da "nova" política na Câmara Federal.

Amastha ainda poderia contar com a ex-deputada federal e ex-prefeita de Palmas Nilmar Ruiz. Ela chegou ao Tocantins pelas mãos do siqueirismo. Foi secretária municipal e estadual de Educação de governos utistas, antes de alcançar a prefeitura, também pelas mãos do grupo do ex-governador, com quem rompeu nas eleições de 2004 e seguiu com Marcelo. Com o apoio do peemedebista chegou a deputada federal em 2006. A partir de 2011 voltou a se entender com o siqueirismo e comandou pastas na última gestão do ex-governador.

Para o Senado, a "nova" política seria representada pelo ex-deputado federal Eduardo Gomes (SD). Também siqueirista histórico, Gomes foi um dos homens mais próximo de Siqueira e Eduardo nas últimas décadas. Um dos raros a permanecer fiel ao siqueirismo enquanto essa corrente pôde imperar na política tocantinense. Na última eleição disputou o Senado ao lado de Sandoval Cardoso.

Dois nomes ainda estranhos ao eleitor tocantinense comporiam o quadro dessa "nova" política. Dos dois sabe-se alguma coisa do vereador Tiago Andrino, que teria começado a vida política no PCdoB, ainda no movimento estudantil. Depois de se tornar um dos homens fortes de Amastha, renegou os princípios marxistas e cerrou fileiras no "direitoso" PP, para seguir o chefe. Quando este decidiu ir para o PSB, Andrino deixou o PP e releu o "Manifesto Comunista". Agora é pré-candidato a deputado estadual pelo PSB.

Outro que poderia completar esse quadro da "nova" política é um total desconhecido, Adir Gentil, atual subprefeito da Região Sul. Ninguém sabe da história dele, apenas que parece ter sido deputado por Santa Catarina, não se sabe se pela "nova" política de Jorge Bornhausen ou se pela "nova" política de Esperidião Amin. Ã?nica informação disponível é que está tentando construir uma candidatura a deputado federal. Fora isso, incógnita abismal.

Renunciando ao mandato em abril, Amastha deixaria o comando da "nova" política de Palmas para a vice-prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB), que por 16 anos foi a mais próxima aliada de um dos maiores políticos da história do Tocantins, o senador João Ribeiro (PR), também sempre fiel ao ex-governador Siqueira Campos, mas que construiu a própria escola política. Cinthia tem se mostrado uma política hábil, e não resta dúvida de que os ensinamentos do grande senador não foram em vão.

Por fim, na cadeira do Palácio Araguaia estaria a personificação da "nova" política, o governador Carlos Amastha. Grande empresário que se revelou um excelente gestor público, Amastha sempre teve apoio da "velha" política do Estado. A festa de lançamento do Capim Dourado Shopping, no Espaço Cultural, por volta de 2007, foi uma das maiores já realizadas na Capital. Naquela noite todos os holofotes e agradecimentos foram direcionados a duas personalidades, em missa de corpo presente: o governador Marcelo Miranda e a primeira-dama Dulce Miranda.

Quando quis transitar pelos tortuosos caminhos da política, Amastha se filiou ao PV do então deputado estadual Marcelo Lelis, de quem era muito próximo. Rompeu com Lelis quando quis disputar a Prefeitura de Palmas e os dois se tornaram inimigos figadais, de ataques via redes sociais que fugiam totalmente do respeito e do espírito humanitário que devem reger a "nova" política.

No seu palanque em 2012, Amastha contou com apenas dois fortes apoios: Wanderlei Barbosa (SD) e Sargento Aragão (PEN). O primeiro ligado desde o início da carreira com o siqueirismo, com quem rompeu em 2003, na homérica briga pela presidência da Câmara de Palmas, que venceu. Então, aliado do candidato a prefeito Raul Filho, construiu uma nova história a partir de 2004. Foi aliado Marcelo Miranda, depois voltou a se alinhar com Siqueira Campos e disputou vaga na AL em 2014 com Sandoval Cardoso.

Aragão foi sempre o antissiqueirista, assim, nunca teve qualquer relação com o ex-governador, mas compôs a base de Marcelo Miranda na AL e ocupou secretaria em gestão do peemedebista.

Já Amastha apoiou a reeleição de Carlos Gaguim em 2010 e de Sandoval Cardoso em 2014. Agora se prepara para ele próprio tomar o "trono" em nome da "nova" política do Tocantins. Quando interessante se aproxima de Marcelo e da senadora Kátia Abreu, quando não, vai para o Twitter, os detona e se afasta, uma prática que se repete de forma até rotineira.

Enfim, todo esse histórico é para dizer que o mero rótulo de "novo" e "velho" não diz nada. Se essas personalidades, a maioria delas, estão hoje com Amastha é porque ele reconheceu valores nelas que não surgiram quando se aproximaram dele, mas que já existiam quando pertenciam ou ao grupo de Siqueira Campos ou de Marcelo Miranda, dois homens públicos que erraram muito, mas que também deram gigantescas contribuições ao Tocantins. Muitos que continuam na oposição a Amastha também têm enorme valor à sociedade e, por consequência, possuem muito a oferecer ao Estado.

Sempre digo que os cidadãos têm o direito de até sair do tom contra os políticos, porque estão extremamente decepcionados. Contudo, os líderes, não. Precisam manter a compostura, a serenidade e o respeito em meio às mais profundas divergências.

� só assim que vamos construir um Estado melhor, mais forte e do sonho de todos nós, ou seja, um novo Tocantins e uma verdadeira nova política.

CT, Palmas, 19 de setembro de 2017.
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