Tribuna do Interior

Tocantins, Quinta-feira, 28 de março de 2024.
10/10/2015 - 22h19m

Adeus ao "embaixador do Jalapão": cinzas de Eudoro serão espalhadas nas dunas

Daniela Oliveira / Governo do Tocantins 
Emerson Silva
Seu desejo, expresso em vida, de ter suas cinzas lançadas nas dunas do Jalapão, revela a profunda relação que desenvolveu com o lugar, em especial, com os moradores da região
Seu desejo, expresso em vida, de ter suas cinzas lançadas nas dunas do Jalapão, revela a profunda relação que desenvolveu com o lugar, em especial, com os moradores da região

O secretário Eudoro Pedroza faleceu no último sábado, 3, em Goiânia, sua cidade natal, após uma grande batalha contra um câncer no pulmão. Seu desejo, expresso em vida, de ter suas cinzas lançadas nas dunas do Jalapão, revela a profunda relação que desenvolveu com o lugar, em especial, com os moradores da região.

Em meio às belezas naturais, Eudoro Pedroza descobriu a verdadeira riqueza de lá: seu povo. Habituados à vida dura que o ambiente impõe, foi por meio do amigo que as vozes dessas comunidades começaram a ecoar para além das fronteiras do parque. "Ele fez de tudo para desenvolver o Jalapão. Ele acabou com o isolamento das comunidades, apresentou o Jalapão para fora", conta Dona Diomar Ribeiro, conhecida como Santinha na comunidade, ainda abalada com a perda do amigo, que era como se fosse da família.

"Eu cantava pra ele: se eu pudesse escrever na água como escrevo na areia escreveria seu nome com o sangue da minha veia", revela, relembrando um dos momentos em que esteve com ele na comunidade Mumbuca. "Lembro quando andei com ele na roça, que ele queria conhecer a jalapa [planta encontrada na região e que deu nome ao Jalapão]", diz emocionada.

Outra moradora da região que fez questão de falar do amigo, que conheceu há 12 anos, foi Dona Laurina Ribeiro Gomes. "No meu restaurante tem um retrato dele. Não consigo nem olhar, me bate uma saudade. Meu prazer era ver ele feliz aqui conosco", conta.  A última vez que viu Eudoro Pedroza  foi no seu aniversário, em Palmas. Ela conta que sabia que ele estava doente, mas apenas tempos depois soube qual era a enfermidade. "Eu orava por ele. Era um amigo de confiança para as horas mais difíceis", revela.

Há mais de 10 anos, Eudoro Pedroza buscava contribuir com as comunidades do Jalapão. Com o Natal Solidário, projeto idealizado por ele, entregava brinquedos, roupas, cestas básicas, ainda levava cursos profissionalizantes e atendimentos médico e dentário para os moradores da região. A Festa da Rapadura, realizada no Povoado do  Prata, comunidade remanescente de quilombo, surgiu após uma sugestão de Eudoro. A última Festa da Colheita do Capim Dourado, realizada em setembro deste ano no Povoado Mumbuca,  foi a maior já feita, resultado do apoio do Governo do Estado, por meio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur), pasta na qual era gestor.

Na memória dos moradores, conforme destaca Dona Santinha, ficarão os gestos de carinho e a humildade de Eudoro Pedroza, que fazia questão de, junto com a família, passar um tempo com eles. "Apesar da posição dele, ele tratava a gente como igual. Ele até dormiu na minha casa, coisa mais simples", lembra Dona Laurina.

Os laços que se formaram ficarão eternizados quando o pedido de Eudoro Pedroza for atendido. Um dia após a realização da missa de sétimo dia, nesta sexta-feira, 9, às 19h30, na Catedral do Divino Espírito Santo, na Praça dos Girassóis, em Palmas, familiares e amigos levarão as cinzas para serem lançadas nas dunas do Jalapão.  "Era lá que ele queria ficar, pois ele amava o Jalapão. E é lá que ele vai repousar agora", diz Ilana Cardoso, da Comunidade Mumbuca.

© 2015 - Tribuna do Interior - Todos os direitos reservados.
Expediente