Além da desvalorização, professor é sobrecarregado pelas famílias com funções que são delas - Tribuna do Interior

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Tocantins, Sábado, 20 de abril de 2024.
15/10/2017 - 21h22m

Além da desvalorização, professor é sobrecarregado pelas famílias com funções que são delas

Do Portal CT 
Foto: Internet

Neste domingo, 15, é dia de celebrar uma data muito importante do calendário, o Dia do Professor. Porém, com a realidade atual das salas de aulas e seus inúmeros desafios, como a falta de valorização e a transferência de responsabilidade das famílias para as escolas, docentes das principais cidades do Tocantins declararam ao CT que têm "muito pouco" ou até mesmo "nada" a se comemorar neste ano.

"A escola vem perdendo seu papel verdadeiro. As famílias estão atribuindo as funções de educar, de corrigir, que são deles, para o professor. Estão atribuindo cargas aos profissionais da Educação que não são nossas. Inclusive, o cuidar que era da família estão trazendo para escola, como se fosse obrigação do professor, ou seja, estão trazendo todas as mazelas da sociedade para o professor resolver e a educação está perdendo a essência", desabafou a professora Rosy Franca Oliveira.

Segundo a docente, que é presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Tocantins (Sintet) da regional de Araguaína, a escola atualmente está "sobrecarregada" de atribuições "que antes não era dela", mas sim da família, da gestão e de outros setores da sociedade. "Isso reflete na qualidade de ensino, no aprendizado e nos índices da Educação do Brasil, que hoje está lá embaixo", observou.

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Professora Rosy Franca, de Araguaína: "A educação está perdendo a essência"

Outro problema que existe na sala de aula, conforme a dirigente do Sintet de Araguaína, é a redução da importância e da autoridade do professor. "Os alunos, devido a vários fatores sociais e outros aspectos, perderam o respeito pelos profissionais da Educação. Não só os alunos, mas também grande parte da comunidade vem perdendo esse respeito por aqueles que estão dando seu conhecimento", disse.

"Os professores não têm o reconhecimento e isso nos entristece muito porque é a profissão que forma todos os outros profissionais. No entanto, não é reconhecida e não é valorizada como deveria ser", lamentou a educadora.

As condições de trabalho, a valorização dos profissionais e a qualidade de ensino também são apontadas pela professora como desafios. "Está muito aquém do que a gente precisa. Ainda encontra entrave em relação às políticas educacionais, por parte das gestões".

Para a professora, a comemoração do dia 15 é pela garra dos profissionais e a disposição em dar o melhor para a Educação. "Em termos de valorização e de condições de trabalho, nós não temos muito o que comemorar", revela Rosy. "� uma luta, mas nós não desistiremos nunca", finaliza.

Gurupi
Secretaria geral do Sintet de Gurupi, a professora Neima Araújo dos Santos também acredita que os principais problemas que os professores de todas as redes de ensino estão enfrentando são a falta de valorização e as condições de trabalho.

"Nesse momento a gente percebe que há uma política de desvalorização do trabalho do professor, da classe, do profissional que estuda, se dedica, procura fazer uma formação e, de certa forma, o governo não valoriza isso", aponta. "Por mais que a Prefeitura de Gurupi tenha investido muito em termos de melhorias de estrutura física, de formação, ainda é preciso avançar", acrescentou.

A professora também mencionou o desgaste na relação professor-aluno e a sobrecarga como desafios. "Hoje o professor perdeu o respeito. A gente vê professor sendo agredido verbalmente, fisicamente e não fazem nada. A sociedade não valoriza mais como antigamente. Além disso, o professor está pegando toda carga de responsabilidade e fazendo dois papéis, o da escola e o da família", pontuou Neima, destacando que é mudanças são necessárias, nesse sentido

Palmas
Em Palmas, a rede municipal de ensino há poucos dias encerrou uma greve, na qual estava reivindicando direitos da categoria. Entre eles, pagamento de progressões, data-base, revisão do Plano de Carreira e eleição de diretores.

O presidente regional do Sintet da Capital, Fernando Pereira, declarou ao CT que além dessas demandas, falta a definição de uma linha de trabalho "específica" e "clara". "Os desafios são enormes", aponta.

O sindicalista critica o que ele chama de processo de "militarização" de ensino. "Parece que a educação municipal se torna uma colcha de retalhos, não tem uma política equilibrada de qual vertente iremos seguir", disse.

Pereira vê como um impasse também a "falta de transparência" na prestação de contas. Para ele é necessário a criação de uma lei de gestão democrática. "Nós não temos o acompanhamento dos recursos financeiros dentro das unidades", revelou o líder sindical, criticando ainda a merenda e a interferência política nas escolas.

Apesar de não vê motivo para comemoração neste dia 15, o presidente regional do Sintet pondera que, graças aos esforços dos profissionais na busca de se qualificar cada vez mais, a Educação de Palmas possui "muita qualidade".

Cenário estadual
A realidade da rede estadual de ensino, não está muito diferente do cenário retratado das escolas municipais das principais cidades do Tocantins, conforme afirma o presidente do Sintet, José Roque Santiago. Por isso, para ele, no dia do professor não há nada o que se comemorar.

"O governo não paga as progressões, não paga os retroativos, não dá a data-base, não cumpre com o plano de carreira. O fator psicológico dentro das escolas é gravíssimo para essa relação, pois o Estado não tem projeto para a Educação e quer resolver tudo na pressão psicológica. Não temos nada o que comemorar", assevera.

Foto: Divvulgação/Sintet
José Roque: "Somos uma das categorias mais adoecidas do Brasil, por conta dessa relação de trabalho deficiente"

O sindicalista elenca como as principais dificuldades dos professores a falta de valorização e reconhecimento, carência de estrutura, de material didático e de um espaço democrático de debate. Santiago também mencionou a "falta de compromisso" da classe política com a Educação.

"Nosso poder aquisitivo é muito baixo para o tamanho dos desafios que existem. Nesse sistema, somos uma das categorias mais adoecidas do Brasil, por conta dessa relação de trabalho deficiente", lembrou.

José Roque concorda que a relação entre os professores e alunos está ficando cada vez mais "difícil" e "complicada". "Muitos alunos são violentos e a escola não dá amparo aos professores, o que faz é no sentido de tirar ainda mais o poder do professor de ser o líder ali. Por isso, a indisciplina é muito grande", resume o presidente do Sintet, ao acrescentar "que a família também não tem o controle dos seus filhos".

"Muitas famílias não dão conta de fazer nada com o filho e transfere para a escola e na escola o professor não tem condições de lhe dar com pessoas com tanta rebeldia, porque tem situação de agressão. Então, esse é um complicador", concluiu o líder sindical.

Sem festa
O Sintet não vai comemorar o Dia do Professor com festa, mas vai promover uma corrida e caminhada solidária da Educação neste domingo, às 18 horas. O evento vai ocorrer na Praça dos Girassóis, em Palmas e contará com premiação para os cinco primeiros colocados. Para realizar a inscrição o interessado precisa doar dois quilos de alimentos não perecíveis.

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