O polêmico deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) ofuscou o lançamento da pré-candidatura do vereador João Campos (PSC) à prefeitura da Capital. Os palmenses lotaram nesta quinta-feira, 16, o auditório da Assembleia Legislativa para ouvir o parlamentar do Rio de Janeiro discursar por quase uma hora sobre as principais bandeiras que pretende defender em 2018. Bem recebido pela plateia dentro do Parlamento, fora do prédio o congressista foi alvo de protesto, mas sem ocorrência de conflitos.
Temas como a revogação do estatuto do desarmamento e o debate da ideologia de gênero nas escolas, do qual é contra, foram alguns dos diversos assuntos polêmicos citados por Jair Bolsonaro em seu discurso, que iniciou o pronunciamento falando do projeto do Partido Social Cristão para as eleições presidenciais de 2018. "Estou me prontificando, se o partido assim entender, vou sair dessa zona de conforto, não com discursos, mas com propostas e projetos para tirar o PaÃs desta situação. Se aparecer alguém no partido em melhores condições [de disputar], não vai haver briga da minha parte. Até por que quem assumir, não vai ter, um abacaxi, mas um â??mandiocãoâ??", disse o deputado, brincando com a famosa frase da presidente afastada Dilma Rousseff (PT).
Foto: Benhur de Sousa/Assembleia Legislativa |
Jair Bolsonaro (centro) foi recebido pelo presidente da AL e correligionário, Osires Damaso |
Jair Bolsonaro disse "não acreditar" na possÃvel cassação de seu mandato por ter citado Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel do exército e responsável por torturas na época da ditadura militar, na votação do impeachment. O deputado afirmou que a Tribuna da Câmara é "a verdadeira comissão da verdade", não o instrumento de mesmo nome criado em 2011 para investigar violações aos direitos humanos por gestores públicos, o que chamou de "palhaçada" para acobertar petistas. O parlamentar também citou o processo que corre contra ele por apologia ao estupro, acusação a qual nega. "Buscam, obviamente, uma maneira de me tornar inelegÃvel em 2018", afirmou.
Defesa da propriedade privada
O atentado a boate Pulse, em Orlando, nos Estados Unidos, serviu para o carioca falar sobre segurança pública, e consequentemente sobre uma de suas bandeiras na Câmara Federal. "A questão das armas, não é o controle delas que reduz a violência. A polÃtica do PSC é revogar o estatuto do desarmamento. A segurança começa em casa. A nossa gloriosa PolÃcia Militar do Tocantins não tem como atender a todos em tempo hábil", disse Bolsonaro. Em relação ao campo, o deputado engrossou. "Entendo que o pessoal tem que apresentar de cartão de visita para o MST [Movimento dos Trabalhadores Sem Terra] um cartucho 7,62 [munição]. A esquerda sempre procura aniquilar a famÃlia, as religiões e a propriedade privada, que é sagrada", disparou.
O deputado também criticou os critérios para definir o trabalho análogo a escravidão, principalmente no setor urbano, que poderia prejudicar o direito à propriedade privada, devido ao risco da expropriação do imóvel. "A esquerda nunca respeitou a propriedade privada, até por que, alguém conhece algum destes esquerdistas que no passado tinha sido empresário, comerciante, agricultor, empreendedor? Não. Ou vem do sindical ou da ociosidade", afirma.
Foto: Divulgação/PSC Nacional |
Evento do Partido Social Cristão aconteceu no auditório da Assembleia Legislativa |
Homossexuais e voto impresso
Sobre o seu posicionamento em relação aos homossexuais, Jair Bolsonaro disse não ter "problema nenhum" e recomendou que "fossem felizes", mas comentou seu empenho para impedir a circulação da cartilha sobre ideologia nas escolas, por entender que o material "ensina a ser gay". "Isso é um crime, um ato terrorista contra a inocência das nossas crianças. Ã? um ataque frontal e covarde contra a famÃlia brasileira", disse.
Outro ponto defendido por Jair Bolsonaro foi o voto impresso. "Eu desconfio das urnas eletrônicas, mas não tenho como comprovar que houve fraude. E o cidadão que confia não tem como comprovar que não houve. Em nenhum PaÃs do mundo aplica isso", comenta. O deputado ainda comentou o veto de Dilma Rousseff ao projeto, o que para ele significa que ela "sabe que tem fraude". O ato da petista foi revogado pela Câmara Federal.
Com discurso forte contra a esquerda, chegando afirmar que o PaÃs, Jair Bolsonaro finalizou o discurso projetando vitória nas eleições presidenciais de 2018. "A direita tem proposta, tem ideia, vai ter voto, vai ter programa, e vai chegar lá, pode ter certeza disto. Concluo agradecendo a todos vocês com nosso grito de guerra: Brasil acima de tudo e Deus acima de todos", disse.
Foto: Divulgação/CUT Tocantins |
Manifestação contra vinda de Bolsonaro aconteceu na porta da AL; PM bloqueou entrada |
Protesto
Bem acolhido durante evento do Partido Social Cristão no auditório, inclusive sendo constantemente solicitado para fotos e ovacionado pelo público presente, Jair Bolsonaro foi recebido na porta da Assembleia Legislativa com forte protesto de cerca de 60 pessoas. O grupo gritava palavras de ordem contra o parlamentar, como: "A nossa luta é todo dia, contra o machismo, racismo e homofobia", "Beijo homem, beijo mulher. Tenho direito de beijar quem eu quiser", e "Bancada evangélica não me representa". A PolÃcia Militar esteve presente no local e bloqueou a entrada dos manifestantes. Pessoas que apoiavam Jair Bolsonaro rebateram gritando "não tem maconha" e "aqui não é cuba". Apesar do atrito, não houve confronto.
Ao CT, Cristian Ribas, do coletivo Enegrecer e do Conselho Nacional de Direitos Humanos, comentou o protesto. "O ato consistiu no escracho à vinda do Bolsonaro, que tem como objetivo organizar setores conservadores e reacionários da polÃtica tocantinense para um projeto que é antagônico aos direitos humanos, ao processo de emponderamento. Também visamos garantir o direito das minorias sociais, como negros, mulheres e LGBT", disse
Foto: Divulgação/CUT Tocantins |
Ato foi pacÃfico e contou com manifestação artÃstica dos manifestantes |
O manifestante reforçou que o ato foi "pacÃfico" e contou com manifestação artÃstica. Uma menina representou as vÃtimas da opressão e da homofobia e as pessoas tinham as mãos manchadas representando sangue. Cristian Ribas também comentou a reação dos que apoiavam Bolsonaro. "Como de praxe, proferiram diversas ofensas, xingamentos que não valem a pena serem reproduzidos, mas os que estavam do lado dos direitos humanos não aceitaram nenhum tipo de provocação", comentou.
Participante do coletivo feminista Helenira Rezende e militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Ellyonai Aires, também defendeu a realização do protesto. "Hoje a gente se fez presente neste ato para gritar em alto e bom som contra uma pessoa que respira e exala ódio e que faz barbaridades, comentários ridÃculos que acabam ofendendo a nossa classe. Não só como feminista, como mulher. Ele não nos representa de forma alguma. Um cara machista e misógino que faz declarações que são inaceitáveis para nós", disse a manifestante, avaliando como positiva a movimentação realizada em frente da Assembleia Legislativa.