"O presidente do
Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul, José Nunes, deu uma
palestra na Unisinos sobre a questão do diploma.
Segundo relatos, ele teria sugerido que a manutenção de blogs jornalísticos deveria ser exclusiva de jornalistas.
Como bom jornalista formado que sou, enviei uma mensagem solicitando a posição oficial do Sindicato.
Segue abaixo a resposta de José Nunes (grifos meus):
O fenômeno dos blogs
trouxe à tona uma eterna discussão sobre a liberdade de expressão de
cada um, e os limites da atividade jornalística. Sendo o blog, em
essência, um texto pessoal sobre qualquer assunto, muitas vezes a
própria vida de quem escreve, ele permanece circunscrito às liberdades
individuais previstas em lei.
Um blog jornalístico
evidentemente precisa ser assinado por um jornalista, pois passa a ter
um caráter de veículo, tal como um noticiário de rádio ou mídia
impressa.
Ou seja, muitos
profissionais passaram a se utilizar dessa ferramenta até como forma de
publicar as informações que apuram, e que no local de trabalho não são
aproveitadas, ou não interessam.
E há quem tenha sido
alçado à fama repentina dentro da possibilidade tecnológica de gerir o
próprio canal de comunicação - sendo que a imensa maioria dos blogs
continua como diário pessoal, postagem de fotos, links para assuntos
encontrados na própria web, distribuição de arquivos diversos, com
visitação restrita ao círculo de amigos.
Coincidentemente, os
blogs de maior destaque, uma pequena parte da blogosfera, costumam
trazer apuração jornalística, "furando" a mídia tradicional com novidade
ou provocações, ou são escritos por aficcionados em determinado assunto
(cinema, música, quadrinhos, etc), naturalmente trazendo um volume de
informação justamente pela afinidade do autor com o tema.
Material jornalístico, regularmente assinado por jornalista, independente do meio em si, é a posição do Sindicato.
Concluímos então que todo os jornalistas podem ser sim um blogueiro, mas nem todo blogueiro é um jornalista.
Se compreendi bem,
portanto, conforme o Sindicato o portal Interney Blogs, que é um veículo
de informação, deveria ter todo conteúdo produzido apenas por
jornalistas.
A Nova Corja deveria expulsar o colaborador Walter Valdevino, que é filósofo, não jornalista.
Ou o Merigo teria de
contratar um jornalista reponsável para continuar tocando sua revista
eletrônica especializada em Publicidade, o Brainstorm #9.
Num espírito mais
condescendente, poderia imaginar que o Sindicato na verdade está se
referindo aos blogs mantidos por não-jornalistas dentro de portais
pertencentes a empresas jornalísticas, caso em que de fato existe uma
zona cinzenta e espaço para discussão.
Considero a posição
lamentável, por pretender colonizar um campo de atividade que, embora se
assemelhe ao jornalismo, é diferente.
Blogs podem ser
informativos, mas não detém o mesmo status da imprensa. Blogs não
pretendem ser a palavra final sobre um determinado assunto, mas apenas
um grão de areia em uma discussão geral na Web -- o que não impede um
blogueiro de, eventualmente, dar a palavra final sobre determinado
fato.
O público não forma uma
opinião lendo apenas um texto em um blog, mas analisando vários textos
disponíveis na blogosfera, participando de discussões nos espaços para
comentários, acompanhando por longos períodos de tempo determinados
autores, até confiarem que eles são honestos.
(OK, existe gente que
acredita em tudo que lê na Internet, mas esses também não usam o senso
crítico ao ler jornais e portanto estão perdidos para a democracia.)
Por outro lado, o
próprio Sindicato admite que a informação produzida por alguns blogs
excede em qualidade a produzida por jornalistas.
Se algumas áreas estão
desatendidas pela imprensa profissional a ponto de serem ocupadas por
leigos em jornalismo, não seria por falta de interesse econômico?
Nesse caso, a solução
melhor não seria deixar que os próprios jornalistas tomem conta desses
espaços usando sua qualificação profissional para oferecer ao público
informação melhor, em vez de se propor uma reserva de mercado?
Finalmente e mais
problemático: os pesquisadores da área estão tentando desde o surgimento
dos blogs determinar a linha que divide o jornalismo da simples
produção de informação.
Até hoje, ninguém
conseguiu fazer isso de maneira indiscutível, porque esse tipo de
veículo costuma misturar formatos em graus que variam de blog para
blog.
No caso de se aplicar
essa proposta, quem vai definir quais blogs tem caráter jornalístico,
quais fazem jornalismo "às vezes" e quais não devem nada ao Sindicato?
A Internet foi
arquitetada para evitar o controle centralizado, então qualquer
legislação no sentido de cercear os blogs informativos será pouco mais
que gasolina para começar flame wars com direito a muito Google bombing.