Ex-prefeitos do Tocantins foram enganados ou se deixaram levar por seus interesses - Tribuna do Interior

Tribuna do Interior

Tocantins, Sexta-feira, 29 de março de 2024.
11/04/2017 - 17h39m

Ex-prefeitos do Tocantins foram enganados ou se deixaram levar por seus interesses

Por CLEBER TOLEDO 
Nada contra a ideia da criação de uma Associação de Ex-Prefeitos do Tocantins para defender os interesses particulares daqueles gestores que saíram dos mandatos com muitos problemas diante da Justiça e dos órgãos do controle. A iniciativa é legítima e democrática porque eles têm todo o direito de se unir para, fortalecidos, buscarem o que avaliam ser justo. A questão é a forma como isso está sendo feito, que, como se viu na repercussão da notícia do CT no final de semana, foi totalmente rejeitada pela opinião pública do Estado. Sem os devidos cuidados para divulgar a associação à sociedade, os ex-prefeitos podem ter inviabilizado uma proposta que é boa â?? reforçando â?? para eles.

De início, então, é preciso dizer que não há nenhum interesse público envolvido nessa ideia da associação. Há nela, única e exclusivamente, interesse privado. O político entra para a vida pública sabendo de todos os riscos que corre, de todo o rigor da legislação, do amadurecimento dos órgãos de controle e da evolução de toda a tecnologia para acompanhar a aplicação de recursos públicos. Assim, se errou deliberadamente ou por falta de conhecimento técnico, tem que assumir a responsabilidade sozinho e não tentar empurrar a conta para o contribuinte. Por isso, se responde a processos, seja em que órgão for, a sociedade não tem nada a ver com isso.

Daí vem o primeiro absurdo proposto pela senadora Kátia Abreu ao anunciar a associação: a utilização de defensores públicos na causa dos ex-prefeitos. Eles se tornaram hipossuficientes? Só pessoas comprovadamente necessitadas podem ser atendidas pela Defensoria, o que, obviamente, não é o caso dos ex-gestores.

Dessa forma, parece totalmente irreal a declaração da senadora de que o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Eurípedes Lamounier, teria dito a ela que vai colocar defensores públicos à disposição dos ex-prefeitos. Era importante que o TJTO esclarecesse sobre essa suposta afirmação. O desembargador não tem poderes para colocar os defensores nas causas dos ex-gestores. Assim, se ele não fez tal promessa, pôr palavras na boca da mais alta autoridade do Poder Judiciário tocantinense seria de uma total e lamentável irresponsabilidade.

O segundo ponto que parece totalmente inverossímil é a declaração de Kátia de que vai criar uma banca de advogados voluntários para defender os ex-prefeitos. Nesse domingo, 9, passaram à coluna conversas de grupos de WhatsApp de advogados do Estado, que se mostraram revoltados com esta afirmação da senadora, e exigindo até manifestação da OAB-TO.

Ora, um dos principais filões do mercado dos advogados do Tocantins é justamente a defesa de ex-prefeitos com tudo quanto é problema com a Justiça e órgãos de controle. Como vão abrir mão dessa receita para agradar Kátia e o ex-gestores? Tudo leva a crer que é mais uma fantasia de pré-candidata.

Por fim, a Associação dos Ex-Prefeitos do Estado já nasce contaminada pelo clima eleitoreiro das últimas semanas. Um erro terrível cometido por quem conhece muito bem a política ou parte de uma estratégia que eles integram como cabos eleitorais? Esmiuçando: ou os ex-gestores estão sendo enganados por quem quer tê-los nas ruas pedindo votos a seu favor ou se deixaram levar pelo discurso fácil e claramente fantasioso em troca da tentativa de resolver seus "pepinos" junto à Justiça e aos órgão de controle.

O grave de tudo isso é se utilizar do nome de entidades respeitadas junto à sociedade tocantinense, sérias e fundamentais para o Estado como a Defensoria Pública e o Tribunal de Justiça, que deveriam se manifestar e dizer que se realmente estão a serviço de ex-prefeitos que respondem, muitos deles, a vários processos, ou se seus nomes foram apenas usados de forma irresponsável.

Se realmente essa loucura de usar defensores na causa de ex-prefeitos fosse possível, o cidadão correria o risco de ser prejudicado duas vezes: ao ter recursos públicos desviados e depois ainda pagando o advogado de quem o prejudicou.

Ou seja, um absurdo por completo.

CT, Maringá (PR), 10 de abril de 2017.
© 2015 - Tribuna do Interior - Todos os direitos reservados.
Expediente