Um vÃdeo que circulou ontem pelas redes sociais gerou revolta e indignação em muitos consumidores de combustÃveis de Goiás.
A gravação mostra um comboio de caminhões de placas da BolÃvia estacionados no pátio do pool de abastecimento de combustÃveis em Senador Canedo â?? Região Metropolitana de Goiânia.
Um áudio conta os valores que os bolivianos pagam pela gasolina e óleo diesel, muito inferior ao cobrado dos revendedores locais. Denunciando ou em busca de respostas, o telefone do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de Goiás (Sindiposto) não parou de tocar com questionamentos sobre o caso.
Conforme notas fiscais conseguidas pelo POPULAR, o preço do litro da gasolina para a BolÃvia é de R$ 1,59, enquanto os postos goianos pagam R$ 3,34. Já o litro do óleo diesel pago pelos bolivianos é de R$ 0,82 â?? mais de três vezes inferior ao vendido para as revendedoras locais â?? R$ 2,91.
O caminhoneiro Antônio Naves que há 32 anos faz carregamento de etanol das usinas para Senador Canedo, diz que nunca havia visto tal movimentação no pool. Além de estar indignado com o valor, diz que o volume de carregamento dos bolivianos mudou até a rotina de atendimento do local.
"Para nós, o funcionamento é limitado até à s 17 horas, mas para eles continua madrugada adentro", reclama. De sexta-feira para cá, calcula que cerca de 50 caminhões carregaram no local, ou seja, 2,250 milhões de litros de combustÃveis.
A reportagem verificou que não há ilegalidade na venda de combustÃveis para a BolÃvia e que os preços são justificados pela isenção de tributos na exportação. Para se ter ideia, somente o tributo estadual incidido na gasolina em Goiás, o ICMS, é de 30%, com mais 2% da Cide e 7% de Pis/Cofins (todos impostos federais).
O que houve de fato foi a mudança na base de captação da BolÃvia, que era nas cidades paulistas de PaulÃnia e Santos ou em Araucária (PR), para a base goiana. "Agora nos mandaram para cá", diz um caminhoneiro brasileiro que faz a rota boliviana, mas que não quis se identificar.
Segundo o motorista da BolÃvia Juan Colha, os últimos três carregamentos â?? o que corresponde um mês de trabalho - foram realizados em Senador Canedo. O percurso é de 1.450 quilômetros, feitos em dois dias de viagem, até Puerto Suarez, no paÃs vizinho. "Lá é a base de carregamento", diz.
Ele afirma que há um acordo entre os governos que envolve o gás natural boliviano e o combustÃvel nacional.
Mas uma das preocupações do Sindiposto é o real destino final e a venda desses produtos.
"Quem nos garante que esse produto não vai para outros postos de combustÃveis, em uma concorrência desleal?", questiona o advogado do sindicato, Antônio Carlos de Lima.