Motorizados, armados de fuzis e pistolas, os "cangaceiros" modernos sitiam os municÃpios.
A ação
acontece sempre da mesma forma. Um grupo segue até o destacamento da
PolÃcia Militar e criva de balas as paredes do prédio e as viaturas no
local. Enquanto isso, outra parte da quadrilha explode a agência
bancária.
São necessários menos de 30 minutos. Apenas o tempo suficiente para estourar (geralmente com dinamite) os caixas eletrônicos e cofres do banco e partir mata adentro. Na fuga, interditam as vias de acesso ao municÃpio, seja com veÃculos de grande porte ou com carros incendiados.
A ação parece ser planejada com semanas de antecedência. Caminhos de fuga, horários da polÃcia e da movimentação do dinheiro nos bancos também são estudados.
A prática, recorrente no interior e nascida no nordeste, é conhecida como â??Novo Cangaçoâ??, remetendo à famosa quadrilha de Lampião, em meados do século 18.
Segundo o presidente do Sindicato dos Bancários no Ceará, Carlos Eduardo Bezerra, nos ataques acontecem arrombamentos, explosões, extorsões e sequestros de familiares de bancários. "Normalmente são quadrilhas interestaduais que, por meio do tráfico de armas e explosivos, sitiam as cidades e conseguem suspender o estado democrático de direito", explica.
Novos cangaceiros
Essa nova categoria de assaltos a bancos vem causando terror nas cidades interioranas brasileiras.
O modus
operandi dos "novos cangaceiros" tem semelhança com o velho cangaço.
Este, não raro, fazia uso de reféns; o bando também era grande, de 10 a
15 membros; e preferia atacar pequenas cidades.
Lampião e seu bando conseguiram dominar o sertão durante anos. De acordo com o historiador Adauto Leitão, os cangaceiros tinham modo destemido de atuação. "Era um grupo organizado que não se estabilizava em uma cidade. Atuava fortemente armado, sitiava o local e fazia a polÃcia refém das suas ações.
Os cangaceiros de Lampião gostavam de desafiar os policiais", afirma. O mesmo acontece atualmente nos ataques às agências bancárias no interior do Ceará.
Diferenças
Apesar da
semelhança, existem diferenças. A atuação do bando de Lampião, de acordo
com o historiador, tinha um cunho sociológico. O objetivo era invadir
as cidades e fazer justiça a seu modo.
Lembrado
como Robin Hood, Lampião era conhecido por roubar dos ricos para dar aos
pobres. Tornou-se personagem do imaginário brasileiro."Fazia
â??â??caridadeâ??â??, assistindo as pessoas do meio rural que tinham
necessidades".
O â??Novo Cangaçoâ?? já faz parte de outra conotação. "São grupos criminosos, que saqueiam os bancos, sejam privados ou públicos. O que interessa é recurso financeiro para alimentar grupos organizados como o PCC [Primeiro Comando da Capital], por exemplo".
Além disso,
segundo Leitão, o cangaço original tinha um viés da cultura nordestina,
seja no traje ou alimentação. Agia armado em seus cavalos. "Lampião e
os cangaceiros eram nordestinos natos.
Esses novos
são de vários estados. As quadrilhas têm integrantes cearenses,
paulistas, cariocas, qualquer brasileiro. Não existe esse conceito de
ser nordestino", conclui.
Medo
A principal
diferença, no entanto, é o temor que os novos cangaceiros deixam nas
pessoas. A violência assusta. A sensação de insegurança aumenta. A
tranquilidade dos municÃpios acabou.
"A gente
está preocupado, porque a qualquer momento pode acontecer de novo",
lamenta um morador da cidade de Baturité (a 93 KM de Fortaleza), que â??
por medo â?? preferiu não se identificar. As pessoas andam com medo e não
gostam nem de comentar o que aconteceu.
"Não há
policiais suficientes para a cidade. Se você precisar de uma viatura e
pedir socorro, é melhor chamar logo o rabecão, porque a polÃcia vai
demorar mais de uma hora para te atender" disse Teógenes da Silva,
comerciante.
O senhor Januário de Abreu, aposentado, se revolta com a situação que a cidade vive. "Eu só queria que minha cidade fosse segura de novo. Hoje, tudo mudou", desabafa com os olhos vermelhos, entristecido.
Com informações da Tribuna do Ceará