Tribuna do Interior

Tocantins, Quinta-feira, 25 de abril de 2024.
28/10/2015 - 20h15m

O tradicional e o moderno na Cultura Indígena são temas de diálogo na Oca da Sabedoria

Samara Martins 
Fotos: Valério Zelaya

Se a cultura dos povos indígenas é diversa, ela também está em constante transformação, se equilibrando entre o tradicional e o contemporâneo na aldeia global. Essa realidade cultural dos povos indígenas foi o assunto da roda de diálogo do Fórum Social Indígena na Oca da Sabedoria dos I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, na manhã desta quarta-feira, 28.

A frente da roda de discussão, o ator e ativista cultural Sérgio Mamberti lembrou que os JMPI são, "além de esporte, um retrato da dimensão cultural dos povos indígenas", que apesar de alguns avanços em relação a políticas públicas, ainda carecem de mais ações para a continuidade de suas manifestações. "Estes Jogos, a gente está falando de esportes, mas o tempo todo vejo como manifestação cultural. A diversidade e a dimensão cultural nos Jogos são extraordinárias".

"Um País civilizado respeita as diferenças, a diversidade", criticou João Jorge, diretor do grupo Olodum, ao lembrar que falar da cultura indígena, é também, tratar das questões de direitos. Direitos estes em constante desrespeito, a exemplo da aprovação em primeira votação, da Proposta de Emenda Constitucional, 215, que transfere do Governo Federal para o Congresso Nacional, a demarcação de terras indígenas. "A gente vê o Congresso Brasileiro tentar tirar da população indígena o direito de existir, continua um duelo com indígenas, o mesmo da época da Colonização. Quando a gente vê essa discriminação vemos o Brasil dar às costas para seu espelho", ressaltou.

Ser indígena em meio à civilização não indígena é conviver com o preconceito e assimilar a cultura de fora ao mesmo tempo em que busca preservar direitos e valores culturais próprios. Assim podemos resumir o depoimento dos integrantes do grupo de Rap Guarany, MC`s Bro, formado por indígenas Guaranis da cidade de Dourados, no Mato Grosso do Sul, e o retrato perfeito do multiculturalismo em que vivem os índigenas.  O grupo encontrou na música de origem americana, uma forma para se expressar, tendo na poesia e no ritmo cadenciado do Rap o meio certo para expor o protesto em relação às dificuldades que enfrentam.

"Quando eu era pequeno, lá em Dourados no Mato Grosso, a gente vivia muita discriminação, não conseguia comprar uma roupa em uma loja, mandavam a gente ir embora. Então decidi lutar do meu jeito, eu ouvia uma rádio que tinha um programa de rap, e aí decidi que eu também ia cantar. O Bro é rap, é dos americanos, mas é de índio também. O Bro é o único grupo de rap que canta a realidade do povo indígena", depôs o MC Bruno.

O Bro MC`s cantou duas músicas após o debate, nas letras a mescla dos idiomas português e guarani, além de exibir um videoclipe gravado em Dourados-MS.

A atriz Eunice Baia, que quando criança gravou o filme Tainá, uma Aventura na Selva, também compôs a roda de diálogo, com um depoimento sobre a sua participação no filme e as mudanças que ele promoveu em sua vida. "Sou descendente de Baré, do Norte do Pará, os Barés hoje estão quase extintos, e quando fiz o filme, aos oito anos, mudou a minha vida, fui inserida em diversas discussões sobre meio ambiente, e outros assuntos sobre a questão indígena". 

Moção de repúdio

Encerrando o momento, o assunto foi centralizado na aprovação da PEC 215 com discussões entre plateia e mesa, sobre os impactos nos direitos indígenas e na diversidade étnica que essa proposta acarretaria aos povos originários, sendo deliberado à elaboração de uma Moção de Repúdio a ser enviada ao Congresso Nacional e a outros órgãos nacionais e internacionais. "Essa medida é uma ameaça grave a promoção da diversidade cultural, que deve ser levada a entidades internacionais", frisou Sérgio Mamberti.

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