O governador Marcelo Miranda (PMDB) publicou no Diário Oficial do Estado (DOE) desta quinta-feira, 16, a exoneração a pedido do secretário de Estado da Educação, Juventude e Esportes (Seduc), Adão Francisco de Oliveira. Em entrevista ao CT, o professor universitário alegou que "questões nacionais dos partidos" motivaram a sua saída. Ele é membro do PT e o governador, do PMDB, partido do presidente interino Michel Temer. Além disso, as duas principais aliadas de Marcelo na bancada federal do Tocantins - a primeira-dama e deputada federal Dulce Miranda e a colega dela de Câmara Josi Nunes, ambas também do PMDB - votaram pela admissibilidade do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff (PT).

"Em que pese eu não estar na Seduc por ser do Partido dos Trabalhadores, eu faço parte do Partido dos Trabalhadores; e as questões nacionais dos partidos por conta desse movimento nacional obviamente tem incidências, tem interfaces aqui no cenário regional. Para que essas questões não colocassem nem a mim e nem ao governador em situação de constrangimento, eu achei por bem entregar o cargo, para que ele tenha toda tranquilidade e liberdade de fazer essa composição", argumentou.

Foto: Elias Oliveira/Governo do Tocantins

Adão Francisco diz que "preservou o direito" de tomar a decisão antes de conversar com partido

Adão afirmou que ser secretário de Estado "é algo que cansa". "Gera um desgaste natural e ainda mais nesse momento de crise pelo qual estamos passando", observou. "Há poucos governos atrás a secretaria tinha muito dinheiro para fazer muita coisa. Os secretários de Educação viajavam de avião para visitar as regionais e eu tive um momento recente que tive dificuldade de colocar gasolina no carro para poder fazer as minhas visitas no interior". Para o gestor, trabalhar com a pasta da Educação, com 529 escolas em 137 municípios, demanda um "esforço muito grande". "Não é fácil", avaliou.

"Minha decisão"
Conforme o gestor, o PT não influenciou na sua escolha de deixar o cargo. "Não foi uma decisão do Partido dos Trabalhadores porque essa cota, esse cargo não cabia ao Partido dos Trabalhadores. Foi uma decisão minha para deixar o governador confortável, não colocar o governo em situação de constrangimento", ressaltou, acrescentando que dessa forma, todos poderão avançar e "contribuir melhor para o Tocantins".

Ainda nesta sexta, Adão conversará com os membros da sigla sobre a sua saída da Seduc. "Nós temos uma reunião marcada para avaliar isso e planejar o futuro", disse. "Eu me preservei o direito de tomar a decisão antes de fazer qualquer conversação porque eu entendi que o momento exigia e também na perspectiva de que não era uma cota partidária. Então, eu assumi o risco da minha decisão", reiterou.

Surpresa
Adão contou que o governador Marcelo Miranda recebeu a notícia com surpresa. "Ele ficou assustado, mas ao mesmo tempo ele compreendeu", disse. O professor agradeceu a confiança de Marcelo Miranda e desejou sucesso ao Executivo estadual. "Agradeço ao governador por toda confiança que ele sempre me depositou, desde o convite que me foi feito para assumir a Secretaria. Sinceramente, sou muito grato e desejo todo sucesso para o governo"

Apenas "inverdades"
Sobre as informações de possível desgaste com membros do governo, Adão comentou dizendo que foram "apenas inverdades". "Foi especulação. Por algum motivo que eu não compreendo bem, determinada blogueira da cidade criou muitas inverdades a meu respeito desde o mês de outubro do ano passado. E não havia nenhuma tensão nesse sentido. Na verdade, houve um problema interno na Seduc, isso é fato, mas que nós resolvemos muito tranquilamente, com diálogo. E ele não foi suficiente para gerar essa desconfiança do governador", esclareceu. Adão não quis detalhar o problema, mas confessou se tratar de um conflito "normal, da disputa que se estabelece em toda e qualquer secretária".

Balanço de gestão
O professor ficou um ano e seis meses à frente da Seduc. Esse período de atuação na pasta, ele avaliou como "extremamente positivo". "Num contexto de total contingenciamento de recursos nós conseguimos avançar bastante", ressaltou. No setor pedagógico, uma das realizações foi a produção do Plano Estadual de Educação (PEE) que norteará as ações da Educação no Tocantins nos próximos dez anos. Outra realização que ele destaca é os estudos de Ressignificação Curricular, reunindo os educadores para discutir o novo Ensino Médio e sua integração com a Educação Profissional. "O Brasil todo se inspirou em nosso modelo", frisou.

A realização de seminários e parcerias, além da inauguração da Escola Família Agrícola José Porfírio de Souza, no município de São Salvador, a Escola Família Agrícola de Esperantina e da administração da Escola Família Agrícola Zé de Deus, de Colinas assumida pelo estado; foram apontadas pelo gestor. Segundo o professor universitário, nesse período também foram concluídas obras de reformas, ampliações e reparos em 95 escolas. Ao todo, foram investidos R$ 10,2 milhões na melhoria do ambiente escolar. Além do investimento de R$ 2 milhões em aquisição de imobiliário.

Um dos desafios da gestão do secretário foi a negociação com as prefeituras municipais sobre o transporte escolar. A nova cultura conceitual sobre a educação integral, que compreende uma formação do aluno para a vida também foi trabalhada com os educadores em reuniões e capacitações. Paralisado por dois anos, o maior evento literário da Região Norte do País voltou a ser realizado em 2015.

No encontro de secretários do Consórcio Brasil Central foi criada a Câmara de Educação, visando oferecer uma educação de qualidade, aliada à formação e à qualificação dos estudantes para o mercado de trabalho. "O mais importante de tudo isso é a gente ter a certeza de que o Tocantins passou a experimentar um novo sentido de educação integral que não pode ser confundido com tempo integral. Estamos falando de um processo substancial e que de fato permite que as pessoas tenham uma formação integral para poder viver melhor suas vidas e tomar melhor as suas decisões", finalizou.

Adão Francisco seguirá no exercício de sua função de professor universitário e de pesquisador sobre os novos paradigmas da educação e sua evolução ao longo dos tempos e também se dedicará ao papel de escritor.

Interinamente
Com a saída de Adão da Seduc, quem assume a pasta, interinamente, é a subsecretária Morgana Nunes Tavares Gomes. A decisão também foi publicada no DOE desta quinta-feira. (Com informações da Ascom da Seduc)